2023

#9 Corpo Ruído – Paula Garcia

Um dos objetivos conceituais da performance #9 Noise Body é colocar em crise a noção de corpo estável submetendo-o ao conflito, desestabilizando-o pelos atravessamentos sonoros, e, desse modo, promovendo um “corpo ruído”, instável, em processo, em transformação. Ao longo do meu percurso artístico, venho criando uma série de performances em que cubro todo o meu corpo com ímãs de neodímio, que estão fixados em uma armadura de ferro customizada para meu corpo. Enquanto isso, colaboradores cobrem o corpo imantado com pedaços de ferro industriais e arremessam pregos até o meu corpo desaparecer sob esse detrito industrial. Nesse contexto, o conceito de “Corpo Ruído” aponta para uma corporalidade radical definida pela interseção de ao menos três fatores: precariedade, incerteza e risco. Os ímãs são elementos do meu trabalho que servem para discutir o conceito de forças. Não apenas do tipo subjetivo invisível, mas também do tipo mais evidente de forças sociais que trabalham para consolidar um sistema de poder que acaba moldando coisas como corpos, sentimentos, subjetividades e verdades. Como trazido por Jonathan Crary em seu livro Terra Arrasada em que ele nos coloca que existência da internet e das redes sociais em todos os lugares – “maximizam a prioridade incontestável do tomar, possuir, cobiçar, ressentir, invejar – todas elas prioridades que levam adiante a deterioração de um mundo que, operando incessantemente e desprovido das possibilidades de renovação ou de recuperação, sufoca em seu próprio calor em seu próprio lixo.” (CRARY, 2023, p. 14). Na experiência performática de Corpo Ruído operou com corpos desmontados, em desmoronamento. Em última análise, o que proponho é um uso performativo do meu corpo, em confronto com a sonoridade amplificada, como suporte material no qual as formas de conflito são inscritas. Desse modo,  o trabalho intitulado #9 (da série Corpo Ruído), que performei por cinco dias durante cerca de trinta horas no Southbank Centre em Londres em 2023, dá continuidade à exploração de elementos dessa série que aprofundam interações entre o corpo e a tecnologia sonora. Nesta obra, utilizo, portanto, dispositivos acoplados ao meu corpo que geram e modificam sons em resposta aos seus movimentos e ao ambiente circundante.

As apresentações ocupam todo o Queen Elizabeth Hall e são autogeridas, permitindo explorar todas as partes do edifício, incluindo o auditório, a Sala Purcell, camarins dos bastidores, salas verdes, espaços técnicos e foyer. ‍ Todos os artistas foram convidados a realizar trabalhos de longa duração e específicos para cada local. Eles se envolvem com resistência, presença e participação, criando uma possibilidade infinita de encontros entre visitantes e artistas.

Os artistas apresentados são Collective Absentia, Carla Adra, Cassils (aparece apenas de quarta, 4 a sexta, 6 de outubro), Paula Garcia, Miles Greenberg, Sandra Johnston, Carlos Martiel, Yiannis Pappas, Paul Setúbal, Aleksandar Timotic e Despina Zacharopoulou.

Marina Abramović participa na quarta-feira, 4 de outubro, e no domingo, 8 de outubro (primeira sessão) e também está presente em vários outros momentos durante a ocupação.